Ao nos propor um con-viver performático com César Vallejo (não se trata já de apenas ler), a partir de uma partitura de inscrições (não se trata mais de escrever) musicais (a marinera e suas fugas e síncopes etc.) e sexuais (amores com Otilia e suas ramificações) vinculada organicamente à cultura andino-mestiça dos arrabaldes festivos em formação e movimento da Lima dos 1900 e poucos, Pedro Granados impugna, de chofre, as consabidas interpretações político-essencializantes e nos abre, em leque risonho, o vaivém diagramático de Trilce aos textos de antes e depois. O mesmo Vallejo viria a dizer mais tarde, nos Poemas Humanos: “Quiero escribir, pero me sale espuma” /(...) “Quiero escribir, pero me siento puma”, como a mencionar essa coisa toda vinda de baixo, dos lados e de dentro que abalroa as palavras.
Desse modo são postos em ação e presença, através de glossolalias e mesclas rítmico-poéticas represadas no papel (em ziguezague com a rua e suas gingas e cadências), aquilo que uma crítica acabrunhada não consegue ver: os aspectos gozosamente múltiplos e variantes de uma cultura índio-mulata que não se explica pelos dualismos ocidentalizantes (interno e externo, cultura e natureza, signo e referente) de plantão e ainda em voga. Trilce (todas essas aves falando dentro da boca) seria o espaço mítico de máxima concentração e contração sintáticas desse excesso metonímico em que, “a modo de un indigenismo minimalista incluyente”, não se produz sentido, mas um território de possíveis que encadeia as alteridades (mapeado pela tendência dos povos ameríndios à incorporação barroquizante do exógeno assimétrico).
Mais ou menos: nunca podemos saber o que é o outro, mas podemos tê-lo em nós. Ou como diria o próprioVallejo: “Índio después del hombre y antes de él!”. Por isso, vai desdobrando o vallejista peruano, não se pode pensar uma filosofia ameríndia, já que não podemos ser pensados a partir da “evolução” do pensamento do Ocidente, e a partir de um modo de conhecimmento apenas humano-racional, o que é poética e antropologicamente grave. Daí serem tão importantes, com Pedro Granados, as análises erótico-numéricas (“h(n)úmeros para bailar”), em que o cholo de Santiago de Chuco/Trujillo/Lima/Paris destrincha e dissipa, na confluência das comissuras do sexo, dos contornos da dança e da marchetaria oralizante, e junto a pertinentes acontecimentos biografemáticos (veja-se a saga Otilia/mãe/filho abortado etc.), as batidas sínteses e dialéticas pós-coloniais, pós-hegelianas e pós-modernas, sempre sucessivas e epocais, em curso. Sequer o conceito de modernidade pode conter um campo de relações em contínua reversão progressivo-regressiva, visto que as transformações desviantes e as metamorfoses impedem toda ordenação estrutural fixa.
Daí ser de tanto interesse, neste Trilce de Pedro Granados, a interação, na acupuntura dos versos e estrofes, entre um devir-índio, um devir-crioulo e o devir-qualquer-coisa, essa entrada dos objetos da paisagem nos corpúsculos e interstícios (Lezama Lima) do poema, mapeados rizomática e silabicamente pelos ensinamentos, cromatismos e gestos gráficos do sol e do mar.
Amálio Pinheiro
PUC – São Paulo



PRÓLOGO
Al proponernos un con-vivir performático con César Vallejo (no se trata ya de apenas leerlo), a partir de una partitura de inscripciones (no se trata más de escribir) musicales (la marinera y sus fugas y síncopes, etc.) y sexuales (amores con Otilia y sus ramificaciones) vinculada orgánicamente a la cultura andino-mestiza de los arrabales festivos en formación y movimiento de la Lima de los 1900 y pico, Pedro Granados impugna, de golpe, las consabidas interpretaciones político-esencializantes y nos abre, en un abanico risueño, el vaivén diagramático de Trilce a los textos de antes y después. El mismo Vallejo vendría a decir más tarde, en los Poemas Humanos: “Quiero escribir, pero me sale espuma”/(…) “Quiero escribir, pero me siento puma”, como si mencionara toda esa cosa que viene de abajo, de los costados y de dentro que embiste las palabras.
De este modo se ponen en acción y presencia, a través de glosolalias y mezclas rítmico-poéticas contenidas en el papel (en zigzag por la calle y sus balanceos y cadencias), aquello que una maniatada crítica no consigue ver: los aspectos gozosamente múltiples y variantes de una cultura indio-mulata que no se explica por los dualismos occidentalizantes (interno y externo, cultura y naturaleza, signo y referente) canónicos  y aún en boga. Trilce (todas esas aves hablando dentro de la boca) sería el espacio mítico de máxima concentración y contracción sintácticas de ese exceso metonímico en que, “a modo de un indigenismo minimalista incluyente”, no se produce sentido, más sí un territorio de posibilidades que enlaza las alteridades (mapeado por la tendencia de los pueblos amerindios a la incorporación barroquizante de lo exógeno asimétrico).
Acaso de esta manera: nunca podemos saber lo que es el otro, pero podemos tenerlo dentro. O como diría el mismo Vallejo: “Indio después del hombre y antes de él!”. Por eso, va argumentando el vallejista peruano, no se puede pensar una filosofía amerindia, ya que no podemos ser pensados a partir de la “evolución” del pensamiento de Occidente, y a partir de un modo de conocimiento apenas humano-racional, lo que es poética y antropológicamente grave. De ahí que sean tan importantes, para Pedro Granados, los análisis erótico-numéricos (“h(n)úmeros para bailar), en los que el cholo de Santiago de Chuco/Trujillo/Lima/París desenreda y disipa, en la confluencia de las comisuras del sexo, la elegancia de la danza y la carpintería oralizante, y junto a pertinentes acontecimientos biografemáticos (véase la saga Otilia/madre/hijo abortado etc.), las manidas síntesis y dialécticas post-coloniales, post-hegelianas y post-modernas, siempre sucesivas y epocales, en curso. Ni siquiera el concepto de modernidad puede contener un campo de relaciones en constante reversión progresivo-regresiva, ya que las transformaciones desviantes y las metamorfosis impiden cualquier ordenación estructural fija.
De ahí de ser de tanto interés, en este Trilce de Pedro Granados, la interacción, en la acupuntura de los versos y estrofas, entre un devenir-indio, un devenir-criollo y el devenir-cualquier-cosa, esa entrada de los objetos del paisaje en los corpúsculos e intersticios (Lezama Lima) del poema, mapeados rizomática y silábicamente por las enseñanzas, colores y gestos gráficos del sol y del mar.

Amálio Pinheiro (Trad. Giane Lessa)
PUC-São Paulo

Prof. José Amálio de Branco Pinheiro
Possui graduação em Direito pela Universidade do Estado da Guanabara(1969), especialização em Literatura Hispano -americana pela Universidad de Chile(1970), mestrado em Literatura pela Universidade Metodista de Piracicaba(1980) e doutorado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo(1985). Atualmente é Professor Titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Membro de corpo editorial da Nexi e Membro de corpo editorial da Algazarra. Tem experiência na área de Comunicação. Atuando principalmente nos seguintes temas:Corpo, Formalismo, Mesticagem, Radicalidade, Serie e Tinianov. (Fonte: Currículo Lattes)